Université de Genève - Faculté de psychologie et des sciences de l'éducation - Sciences de l'éducation

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Laboratoire de recherche Innovation-Formation-Éducation

 Livres à (re)lire

 

 

António Nóvoa (dir.)
Espaços de Educação, Tempos de formação
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

Hà muito tempo que o lugar da Escola nào era discutido com tanto vigor e intensidade. Após um século de enormes progressos, surgem sinais claros de insatisfação e de mal-estar. É verdade que a Escola cumpriu algumas das suas promessas, em particular o compromisso de acolher todas as crianças. Mas quantas promessas continuam ainda por realizar ? Hà cada vez mais alunos que abandonam a escola privados de tudo : sem um mínimo de conhecimentos e de cultura, sem o domínio das regras básicas da comunicação e da ciência, sem qualquer qualificação profissional. Contrariamente às suas intençôes igualitaristas, a Escola continua, tantas vezes, a deixar os frágeis ainda mais frágeis e os pobres ainda mais pobres.

Nào espanta, por isso, que o século XXI se inicie no registo da polémica e da controvérsia. Podem anunciar-se novas sociedades " educativas " ou " do conhecimento ", mas serào apenas palavras se se mantiver a distância entre " os que sabem " e " os que nào sabem ", entre " os que podem " e " os que nào podem ". Os sistemas de ensino - e os seus responsáveis - parecem bloqueados, incapazes de uma atitude que nào se limite a celebrar as " inércias " e a amparar os " interesses ". Resignam-se ao " jogo das reformas ", na sua agitação vazia, no seu linguarejar sem sent o e sem ideias. Falta um pensamento novo, uma filosofia que ajude a imaginar outras lógicas, outros modelos e outras formas de organização dos espaços educativos.

Infelizmente, em vez de uma análise séria e informada, assiste-se a um desfiar de acusaçôes e, sobretudo, a uma reprodução de dicotomias que em nada ajudam a pensar : ensinar ou aprender, selecção ou igualdade, conhecimentos ou alunos, conteúdos ou pedagogia, elitismo ou democratização, autoridade ou liberdade, esforço ou interesse, lição magistral ou trabalho colectivo. O drama da Escola é a impossibilidade de optar por um ou por outro destes gestos : o acto educativo só se completa quando eles se encontram e se transformam num só.

Três grandes tendências inspiram os debates recentes. Em primeiro lugar, as logicas de privatização, que se legitimam em princípios de liberalização e de escolha, buscando consolidar um " mercado da educação e da formação ". Em segundo lugar, as dinâmicas de desburocratização, que apelam a uma maior responsabilidade das instituições escolares e a práticas regulares de " prestação de contas " às famílias e à sociedade. Em terceiro lugar, as vias de tecnologização que, muitas vezes, entretêm a ilusào que a educação.com nos dispensa de ensar e de tentar compreender.

Nào vale a pena alimentar a nostaleia do passado, nem fazer de conta que os problemas nào existem. Evitar as falsas evidências, o simplismo e a insensatez o anàtema e até a leviandade, sào condiçôes necessàrias para que uma reflexâo colectiva possa emergir na sociedade portuguesa. Seremos capazes de dar lugar à razào e à lucidez, sem excessos de dramatização ou de apatia, na tarefa inadiàvel de repensar a educação ? O debate tem como referência a necessidade de educar cada um até ao limite das suas possibilidades, procurando, ao mesmo tempo, conseguir a integração de todos.

Historicamente, os sistemas de ensino organizaram-se a partir do " topo ", adoptando estruturas burocráticas, corporativas e disciplinares que foram dissolvendo modos locais, familiares, populares e alternativos de promover a educação e a cultura. Nào deixa de ser uma ironia que o futuro da Escola passe, nos dias de hoje, pela capacidade de " recuperar " estas práticas, enunciando-as no contexto de modalidades novas de participação social. Nào se trata de um apelo retórico à " mobilização de todos ", mas sim de acolher e de apoiar presenças que consagrem o direito-dever de educar. Só assim poderemos reconstruir o pacto histórico que, apesar de tantas imperfeições, permitiu o desenvolvimento da escola para todos. É urgente mudar, mas mudar com segurança e coerência. Em tempos de desassossego, mais do que nunca, é essencial manter o rumo das convicções e recusar as soluções de moda ou de conveniência.

Depois de ter dedicado a Conferência de 2000 ao Novo Conhecimento e Nova Aprendizagem, a Fundação Calouste Gulbenkian convida no ano de 2001 a uma reflexão sobre Espaços de Edùcação e Tempos de Formação. O debate tem uma regra, que é também um método : não ceder à tentação dos lugares-comuns, das emoções ou das explicações fáceis, e discutir ideias baseadas em estudos rigorosos e numa indagação científica da realidade. Aqui ficam as perguntas que o orientam : Como conceber os diferentes espaços de educação, reconhecendo a centralidade da Escola, mas também a necessidade da sua transformaçã Como habitar os novos espaços de educação, de tal maneira que não fiquem prisioneiros de um modelo escolar arcaico ? Como imaginar percursos educativos assentes numa diversidade de tempos de formação, marcados pela presença simultânea do " formar " e do " formar-se " ? Como articular os tempos de formação de modo a valorizar a pessoa, sem transformar a vida numa permanente " reciclagem " para a ocupação de novos empregos ?

 

Índice

Nota Introdutória - António Nóvoa

Facas, Garfos e Colheres - Anténio Lobo Antunes

Le lieu des choses et le temps des mots : apprendre la présence et l'absence - Daniel Hameline

I. As Políticas Educativas

Espaços e Temporalidades Sociais da Educação em Portugal - Manuel Villaverde Cabral

O Espaço das Políticas Educativas na Sociedade do Conhecimento : em busca da sociedade do saber - Guiomar Namo Mello

Políticas da Educação : Um Manifesto mais Analógico que Lógico - Óscar Gonçalves

II. O Sistema de Ensino

Raison et effets de la mise en système des enseignements. Reflexions sur le cas français - Antoine Prost

Leitura e Representação de um Drama : o Espaço no Sistema de Ensino - Carlos Reis

Escola - Crise ou Mutação ? - Rui Canário

III. Espaço da Organização Escolar

Educational Choice : A Deep Divide - John E Witte

O Espaço da Organização Escolar - Carlos Amaral Dias

Espaço da Organização Escolar : A Territorialização das Políticas Educativas -Isabel Guerra 

IV. O Trabalho Pedagógico

Espaces-temps de formation et organisation du travail - Philippe Perrenoud

O Espaço Pùblico da Educação : Imagens, Narrativas e Dilemas - António Nóvoa

Comentário &emdash; Isabel Alarcão

Síntese - Cristina Rodrigues 


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