A língua que Abril nos deu

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As mudanças na utilização da língua durante uma revolução podem ser significativas e refletir os tumultos sociais, políticos e culturais que ocorrem durante esse período. No caso da revolução portuguesa de 1974, a abertura política trouxe modificações no uso de um vocabulário até então desconhecido pela grande maioria da população, uma alteração expressiva das formas de tratamento, com um aumento significativo do tratamento por tu e uma redução das formas de grande formalidade, o desenvolvimento de uma linguagem de resistência, marcada por formas de expressão que fortaleciam o espírito de luta e desafiavam as autoridades, com predominância do uso do imperativo. As alterações do uso da língua verificaram-se tanto no  quotidiano da população, como nos media, na política e nas artes, em particular na literatura.

Novos grupos sociais tiveram acesso à palavra – operários, camponeses, mulheres – e outros integraram a sociedade portuguesa vindos das ex-colónias. A revolução teve ainda como consequência a adoção da língua portuguesa como língua oficial de cinco países africanos, criando uma grande diversidade de normas. Atualmente, o maior número de falantes de português encontra-se fora do território onde a língua teve a sua origem, o que nos obrigada a uma reflexão sobre a forma como nos relacionamos com as outras normas e realidades linguísticas do português. Nesta jornada de estudo sobre a língua de abril, procuraremos abordar alguns dos aspetos mais significativos das transformações linguísticas que a revolução nos deu.