Philippe Perrenoud
Ofício de aluno e sentido do trabalho escolar
Porto : Porto Editora
1995
Obra originalmente publicada sob o
título
Métier
d'élève et sens du travail
scolaire
Paris : ESF, 1994.
Actualmente os alunos passaram a ser " aprendentes ". Esta centração nas aprendizagens, implicando logicamente uma centração na didáctica que as organiza, poderá, se a tal não estivermos atentos, ser a última etapa da denegação do sujeito : se o aprendente não aprende, se não quer ou não pode aprender, qual é a identidade que lhe resta ?
Identificar o aluno com o aprendente é impedi-lo de pensar o papel que os adultos lhe atribuem e o modo como o estudante vive esse papel ; é esquecer que o " ofício " de aluno é consignado às crianças e aos adolescentes como um ofício " estatutário ", do mesmo modo que um adulto é mobilizado pelo Estado para se apresentar perante o júri, ou para ingressar no exército. Juridicamente, o trabalho escolar está mais próximo dos trabalhos forçados que de uma profissão livremente escolhida. Uma fracção dos alunos faz da necessidade virtude e realiza, sem dificuldade, o seu percurso escolar ; outros resistem abertamente e desencadeiam a fúria dos que lhe " querem be " ; outros, ainda, fingem aderir às regras do jogo com elas.
Idealmente, o ofício de aluno incita-os a trabalhar para aprenderem. Na realidade, pede-se também às crianças e adolescentes que trabalhem para estarem ocupados, para transformarem textos, exercícios, problemas verificáveis, para serem avaliados, para contribuírem para o born funcionamento didáctico, para tranquilizarem professores e pais. Convidamo-los a seguir rotinas e regras que visam optimizar as aprendizagens e o desenvolvimento intelectual, mas, às vezes, mais prosaicamente, impomos-lhes a manutenção do silêncio, da ordem e da disciplina, para se facilitar a coexistência pacifica dentro de um espaço fechado, para assegurar o cumprimento dos programas, a melhor utilização dos recursos, a autoridade do professor.
Uma sociologia do oficío de/e da arte de ser aluno é, ao mesmo tempo, uma sociologia do trabalho escolar, da organização educativa e do currículo real. Esta abordagem sociológica interessa-se, assim, pelas tarefas e pelos condicionalismos que são, efectivamente, impostos aos alunos, analisando também as tácticas e as estratégias de que estes servem, a maneira como se distanciam face às expectativas dos adultos, as manhas que utilizam, com os limites de poder que a situação escolar lhes impõe, na familia ou na escola. Esta obra esclarece igualmente os conteúdos concretos da cultura escolor, tal como esta é transposta e incarnada no dia-a-dia da sala de aula ; e, por fim, interessa-se pelo sentido que os alunos dão ao seu trabalho quotidiano, em funçao da sua herança cultural, pelo sentido das situaçôes vividas na instituição escolar e pelo poder que aí lhes é concedido.
Introdução.
O ofício de aluno ou como ter sucesso na escola sem sacrificar
a sua juventude…
1. Viver e aprender a viver na escola
2. Curriculo real e trabalho escolar
3. Escolarização e sentido dos saberes : sobre a obsessão de instruir a juventude para o seu bem
4. O go-between entre a familia e a escola : a criança mensageira e mensagem
5. As novas didácticas e as novas estratégias dos alunos face ao trabalho escolar
6. Estratégias face a avaliaçao
7. Sentido dos deveres, sentido do dever
8. Curriculo escondido : dois paradigmas possíveis
9. Perspectivas sociológicas sobre a comunicaçao na aula
10. Sentido do trabalho e trabalho do sentido na escola
Conclusao. Cenário para dois ofícios novos ?